16 abril 2014

O senhor do parque.

Quase todos os dias vou ate uma pracinha que tem próximo a minha casa e quase todos os dias lá encontro as mesma pessoas.

Sempre vejo crianças brincando, pessoa caminhando ou voltando do trabalho ou da escola, porém tem um certo senhor que me chama muito a atenção. Todas as tardes ele senta no mesmo banco isolado, do lado de uma arvore, onde qual mal da para lhe ver, mas é o melhor lugar da praça, pois de lá da pra enxerga tudo. Ele fica com um radinho de pilha em seu lado ouvindo sempre a mesma estação de rádio, onde sempre tocam as mesmas músicas. Já fazem 3 anos que freqüento esta praça, e nesses três anos ele sempre esta lá, sentado daquela forma, naquele mesmo lugar, sempre no mesmo horário.

Certo dia, estava chegando na praça e vi o homem que vendia cachorro quente passando e resolvi comprar um. Fui atrás de um lugar para sentar para poder comer meu cachorro quente, só que todos os lugares estavam cheios, o único lugar possível era do lado do misterioso senhor.

– O senhor se importa de me deixar senta aqui, só por enquanto termino de comer? – perguntei educadamente, já esperando um não como resposta.

– Claro que sim – o simpático senhor com um sorriso totalmente convidativo afastou me cedendo espaço para sentar.

Eu comia silenciosamente, para não atrapalha o senhor que escutava o rádio atenciosamente como se fosse a primeira vez que escutasse. Comecei a me perguntar por que ele fazia isso todos os dias. Olhei para ele com um olhar de duvida, mas a vergonha me dominou por inteiro, então voltei a atenção para meu lanche.

Depois de alguns minutos, a curiosidade já estava me consumindo por dentro, eu tinha que descobri por que ele fazia isso todos os dias.

– Desculpa pergunta e por me bancar a intrometida, mas o senhor poderia me falar por que todos os dias o senhor escuta a mesma radio, que sempre toca as mesmas músicas e sempre senta no mesmo lugar? – quando terminei de perguntar, já estava totalmente arrependida de ter feito a pergunta.

Ele sorriu e olhou pra mim com um brilho inigualável nos olhos.

– Depois de tantos anos por aqui, você é a primeira pessoa que me faz essa pergunta. Eu sabia que isso um dia iria acontecer, mas não sabia que seria por uma menina como você.

– Como assim uma menina como eu? – perguntei totalmente intrigada.

– Uma pessoa cheia de vida, cheia de sonhos. Sempre pensei que seria uma pessoa mais sofrida. É uma história grande e triste, tem certeza que quer ouvi-la?

– Eu tenho bastante tempo para ouvi-la.

– Há uns vinte anos atrás minha primeira filha estava nascendo. Era a coisa mais linda que você pode imaginar, não por ser pai dela, mas todos diziam isso. Era uma menina saudável e seus olhos brilhavam tanto quanto o sol. Só teve um pequeno problema, sua mãe morreu no parto. Pra mim não foi muito fácil, mas sabia que teria que criar forças para cuidar de minha pequena. Conforme o tempo começou a passar ela crescia e ficava cada vez mais linda. Cresceu um pouco inconformada, pelo fato da mãe ter morrido e sempre se culpava, mas eu sempre lhe explicava que ela não era culpada de nada. Quando ela completou 13 anos, descobrimos que ela tinha câncer, foi duro pra ela passar por aquilo, mas também foi muito duro pra mim, ela era a coisa mais importante da minha vida, não podia deixar uma doença tirar ela de mim. Gastei um dinheiro que, na época, eu não tinha para pagar hospitais e medicamento. Entrei no vermelho total. Quando ela teve que raspar o cabelo, dói uma das piores partes, as crianças eram muito cruéis, não ligava se era por doença, simplesmente faziam brincadeiras de mau gosto com ela. Depois de um tempo ela conseguiu se livrar do câncer, mas as brincadeiras continuavam e nossa situação era uma das piores, estávamos quase sem dinheiro nem para comer, por sorte os tios dela sempre me ajudaram bastante. Ela se viu sem amigos, sem a mãe, se sentindo feia e se sentindo culpada pela situação que nós nos encontrávamos e nisso ela entrou em uma depressão profunda, não comia, não queria sair de casa, passava o dia e a noite deitada na cama, muitas vezes chorando. Ate que um dia construíram essa praça e eu encontrei um jeito de tentar tirar ela de dentro de casa, vi esse banco que era longe de tudo e todos, e falei a ela que esse seria um ótimo lugar para ser só nosso, meu e dela. Todos os dias nós vínhamos e nos sentávamos nesse mesmo lugar e todos os dias ela me obrigava a trazer esse radio a pilha, onde ela colocava nessa mesma radio e nós ouvíamos as mesmas músicas e conversávamos sobre todos os assuntos possíveis, eu pensava que a depressão estava largando a minha pobre filhinha. Durante uma noite chuvosa, fui ate o quarto dela para lhe desejar boa noite, só que ela não estava no quarto, a procurei pela casa inteira e só encontrei um bilhete na geladeira “Desculpa, papai. Lembre-se amanhã no mesmo horário nos encontramos”, quando li aquilo corri ate a pracinha, no meio da chuva e quando cheguei aqui encontrei minha filhinha pendurada por uma corda nessa arvore. Desde então todos os dias eu venho aqui pra lembrar que um dia eu fui feliz – quando ele terminou de falar lagrimas caiam no rosto de nós dois.

Meu único impulso foi abraçar aquele senhor que todos os dias ia lá pra relembrar seu triste passado.

– Nossa, eu sinto muito por tudo isso que aconteceu. Isso tudo deve ter sido tão horrível – falei sem saber o que realmente dizer para aquele senhor.

– A única parte horrível foi encontrar ela aqui, sem vida. Mas se ela não se sentia mais bem nesse mundo, ninguém poderia mudar isso. Por um lado, acho que ela encontrou uma paz que ela nunca teve realmente.

Passei mais um tempo sentada com aquele senhor, quando olhei no relógio e vi que já estava na hora de ir embora.

– Vejo o senhor aqui, nesse mesmo horário? – falei antes de ir embora. Ele apenas sorriu e assentiu.

No outro dia quando cheguei na pracinha, ele não estava lá. E assim se passaram os dias e nunca mais eu vi o pobre senhor solitário. Ainda me pergunto o que aconteceu, será que ele precisava contar  aquilo pra alguém antes de morrer ou simplesmente ele se desapegou do passado e foi atrás de aproveitar o resto da sua vida?



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 Tay Monroe.
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