Quase
todos os dias vou ate uma pracinha que tem próximo a minha casa e quase todos
os dias lá encontro as mesma pessoas.
Sempre
vejo crianças brincando, pessoa caminhando ou voltando do trabalho ou da
escola, porém tem um certo senhor que me chama muito a atenção. Todas as tardes
ele senta no mesmo banco isolado, do lado de uma arvore, onde qual mal da para
lhe ver, mas é o melhor lugar da praça, pois de lá da pra enxerga tudo. Ele
fica com um radinho de pilha em seu lado ouvindo sempre a mesma estação de
rádio, onde sempre tocam as mesmas músicas. Já fazem 3 anos que freqüento esta
praça, e nesses três anos ele sempre esta lá, sentado daquela forma, naquele
mesmo lugar, sempre no mesmo horário.
Certo
dia, estava chegando na praça e vi o homem que vendia cachorro quente passando
e resolvi comprar um. Fui atrás de um lugar para sentar para poder comer meu
cachorro quente, só que todos os lugares estavam cheios, o único lugar possível
era do lado do misterioso senhor.
–
O senhor se importa de me deixar senta aqui, só por enquanto termino de comer?
– perguntei educadamente, já esperando um não como resposta.
–
Claro que sim – o simpático senhor com um sorriso totalmente convidativo
afastou me cedendo espaço para sentar.
Eu
comia silenciosamente, para não atrapalha o senhor que escutava o rádio
atenciosamente como se fosse a primeira vez que escutasse. Comecei a me
perguntar por que ele fazia isso todos os dias. Olhei para ele com um olhar de
duvida, mas a vergonha me dominou por inteiro, então voltei a atenção para meu
lanche.
Depois
de alguns minutos, a curiosidade já estava me consumindo por dentro, eu tinha
que descobri por que ele fazia isso todos os dias.
–
Desculpa pergunta e por me bancar a intrometida, mas o senhor poderia me falar
por que todos os dias o senhor escuta a mesma radio, que sempre toca as mesmas
músicas e sempre senta no mesmo lugar? – quando terminei de perguntar, já
estava totalmente arrependida de ter feito a pergunta.
Ele
sorriu e olhou pra mim com um brilho inigualável nos olhos.
–
Depois de tantos anos por aqui, você é a primeira pessoa que me faz essa
pergunta. Eu sabia que isso um dia iria acontecer, mas não sabia que seria por
uma menina como você.
–
Como assim uma menina como eu? – perguntei totalmente intrigada.
–
Uma pessoa cheia de vida, cheia de sonhos. Sempre pensei que seria uma pessoa
mais sofrida. É uma história grande e triste, tem certeza que quer ouvi-la?
–
Eu tenho bastante tempo para ouvi-la.
–
Há uns vinte anos atrás minha primeira filha estava nascendo. Era a coisa mais
linda que você pode imaginar, não por ser pai dela, mas todos diziam isso. Era
uma menina saudável e seus olhos brilhavam tanto quanto o sol. Só teve um
pequeno problema, sua mãe morreu no parto. Pra mim não foi muito fácil, mas
sabia que teria que criar forças para cuidar de minha pequena. Conforme o tempo
começou a passar ela crescia e ficava cada vez mais linda. Cresceu um pouco
inconformada, pelo fato da mãe ter morrido e sempre se culpava, mas eu sempre
lhe explicava que ela não era culpada de nada. Quando ela completou 13 anos,
descobrimos que ela tinha câncer, foi duro pra ela passar por aquilo, mas
também foi muito duro pra mim, ela era a coisa mais importante da minha vida,
não podia deixar uma doença tirar ela de mim. Gastei um dinheiro que, na época,
eu não tinha para pagar hospitais e medicamento. Entrei no vermelho total.
Quando ela teve que raspar o cabelo, dói uma das piores partes, as crianças
eram muito cruéis, não ligava se era por doença, simplesmente faziam brincadeiras
de mau gosto com ela. Depois de um tempo ela conseguiu se livrar do câncer, mas
as brincadeiras continuavam e nossa situação era uma das piores, estávamos
quase sem dinheiro nem para comer, por sorte os tios dela sempre me ajudaram
bastante. Ela se viu sem amigos, sem a mãe, se sentindo feia e se sentindo
culpada pela situação que nós nos encontrávamos e nisso ela entrou em uma
depressão profunda, não comia, não queria sair de casa, passava o dia e a noite
deitada na cama, muitas vezes chorando. Ate que um dia construíram essa praça e
eu encontrei um jeito de tentar tirar ela de dentro de casa, vi esse banco que
era longe de tudo e todos, e falei a ela que esse seria um ótimo lugar para ser
só nosso, meu e dela. Todos os dias nós vínhamos e nos sentávamos nesse mesmo
lugar e todos os dias ela me obrigava a trazer esse radio a pilha, onde ela
colocava nessa mesma radio e nós ouvíamos as mesmas músicas e conversávamos
sobre todos os assuntos possíveis, eu pensava que a depressão estava largando a
minha pobre filhinha. Durante uma noite chuvosa, fui ate o quarto dela para lhe
desejar boa noite, só que ela não estava no quarto, a procurei pela casa
inteira e só encontrei um bilhete na geladeira “Desculpa, papai. Lembre-se
amanhã no mesmo horário nos encontramos”, quando li aquilo corri ate a
pracinha, no meio da chuva e quando cheguei aqui encontrei minha filhinha
pendurada por uma corda nessa arvore. Desde então todos os dias eu venho aqui
pra lembrar que um dia eu fui feliz – quando ele terminou de falar lagrimas
caiam no rosto de nós dois.
Meu
único impulso foi abraçar aquele senhor que todos os dias ia lá pra relembrar
seu triste passado.
–
Nossa, eu sinto muito por tudo isso que aconteceu. Isso tudo deve ter sido tão
horrível – falei sem saber o que realmente dizer para aquele senhor.
–
A única parte horrível foi encontrar ela aqui, sem vida. Mas se ela não se
sentia mais bem nesse mundo, ninguém poderia mudar isso. Por um lado, acho que
ela encontrou uma paz que ela nunca teve realmente.
Passei
mais um tempo sentada com aquele senhor, quando olhei no relógio e vi que já
estava na hora de ir embora.
–
Vejo o senhor aqui, nesse mesmo horário? – falei antes de ir embora. Ele apenas
sorriu e assentiu.
No
outro dia quando cheguei na pracinha, ele não estava lá. E assim se passaram os
dias e nunca mais eu vi o pobre senhor solitário. Ainda me pergunto o que
aconteceu, será que ele precisava contar
aquilo pra alguém antes de morrer ou simplesmente ele se desapegou do
passado e foi atrás de aproveitar o resto da sua vida?
"Texto totalmente produzido por mim, se for publica-lo em algum lugar coloque os devidos créditos. Não esqueça que usar obras das pessoas sem sua autorização é plagio e plagio é crime."
Tay Monroe.